De tempos em tempos a gente precisa fazer arrumações nas peças da casa. Revitalizamos espaços, abrimos gavetas, reorganizamos roupeiros e abrimos uma caixa ou outra de velhas recordações, acessórios fora de moda ou aparelhos obsoletos de alguma década distante.
Cada lembrança traz sorrisos que se desenham vagarosamente no canto da boca feito o sabor de café da manhã na casa dos avós durante as longínquas férias escolares.
Por outras vezes, vem igualmente o lamento de uma saudade. De pessoas, lugares, momentos, das muitas perspectivas e dúvidas. Coisas que ao bater o olhar, traz a lástima de como tudo era tão simples ou óbvio.
Um redemoinho de sensações que nos fazem suspirar, e relembrar pensamentos como "e eu achava que isso daria certo", "se eu tivesse tentado mais...", "isso teria mudado todo o curso de minha vida", "se eu pudesse viver isso exatamente igual certamente assim faria novamente".
Hoje me veio você.
Hoje vieram momentos infindáveis, sensações incrivelmente únicas, um olhar íntimo infinito que mirava cada alma em nosso abraço. No suspiro, na respiração, na falta de fôlego. Na ânsia da saudade amarrada na espera ao próximo encontro, no desespero ao lembrar como tudo foi sendo escrito até o ponto final. E entender na visão panorâmica do agora, que tudo levava a saída, não na melhor delas, mas a um final.
Que tantas outras coisas eu poderia ter feito diferente, repensado, agido de forma antecipada, ou evitar determinadas situações. Os anos passam e a máxima que diz que "o tempo é o senhor da razão" fica cada vez mais incontestável.
Algumas borboletas ainda voam no meu estômago, assim como as canções que compus, ou as nossas músicas numa coletânea, o vocabulário próprio que tínhamos, as linhas dos meus poemas rascunhadas num caderno qualquer.
Se recordar é viver, eu viajei pra perto de tudo que me fez vivo, e em alguns minutos sem fim, senti arrepios, sabores, fragrâncias e sensações que me deram as motivações, as lágrimas, as gargalhadas, os sorrisos ou decepções em frações de segundos.
E tudo, tudo se esvai, ao fechar a tampa da última caixa, da última gaveta, do último armário.
Tudo segue organizado. Inclusive...minhas memórias.
