sábado, 7 de maio de 2022

Oi, Mãe

 "Ei ,mãe! Eu tenho uma guitarra elétrica."


    Datas comemorativas que não são exatamente um feriado, ainda que se fale em ser totalmente comercial, traz como benefício mínimo, parar para pensar na celebração de um determinado hábito social, cultura popular ou a respeito de quem a gente ama. O dia das mães, dos pais, dos avós, enfim.

    E nesse momento, eu exalto o dia das mães. Não que a gente precise lembrar ou pensar sobre isso, ou apenas na data comemorativa, mas de fato ter um dia para celebrar uma pessoa tão importante, salvava os mais desatentos de não reservarem um tempinho do seu dia pra relembrar, valorizar e não deixar de fazer aquele almoço, passeio ou visitas surpresas para o primeiro amor da sua vida, por exemplo. Ou para aqueles que já tem apenas guardado na memória, alguém tão importante que já se foi, poder direcionar suas orações e pensamentos de saudade e alegria pelo tempo que conviveram. 

    Sempre deixei claro e mantenho dizendo algo que todos que me conhecem sabem: sempre tive duas mães. E assim me referi no dia da minha formatura da faculdade em um telão no auditório no dia da cerimônia. Um momento que coroava uma luta, uma jornada que não foi fácil, e que como pano de fundo teve a minha jornada pessoal sendo percorrida paralelamente com os estudos. Tudo com o auxilio delas.

    Assim como meus dois pais (pai e avô que já se foram), tive na minha formação de caráter as primeiras mulheres da minha vida, minha mãe e minha avó materna.

    "Resumidamente" o que digo é que: de minha mãe e avó, guardo em um baú de recordações, às vezes de doçura, os abraços, os beijos de mimo, um carinho repentino, mas nunca sem motivo, pois a gente nunca sai do ninho para uma mãe ou avó. Guardo as discussões em sermões dos meus erros ou desacertos de alguns mal entendidos, alguns desgastes de dificuldades de fases da vida ou convivência, pois isso é ser família, mas o mais importante de tudo, é que aprendii muito com isso. Com a dureza das palavras quando é necessário, e o afeto de quem deixaria de comer, para não te ver passando fome. Minha avó fez isso por minha mãe e meus tios, e minha mãe também quase passou por isso por minha irmã e por mim.

    De minha avó tenho até hoje, os abraços, o cheirinho da cozinha no café da manhã com praticamente um bufê na mesa, o famoso mimo de vó, alimentar os netos até não haver mais espaço para oxigênio na boca. A paciência, ou às vezes o choque de realidade que precisamos ouvir de uma avó que talvez não quisemos aceitar quando dito pela mãe ou pelo pai. Os presentes de natal, as visitas no churrasco do fim de semana, dormir na avó nos feriados, finais de semana ou nas férias escolares. Os telefonemas na semana pra saber como ela está, pra ouvir que ela não fez muita coisa, talvez um programa de tv, um crochê, um caça-palavras ou que recebeu uma visita da amiga ou alguém da família. As minhas visitas pra tomar um café da tarde com a vovó, uma oportunidade sempre única pra poder conversar e seguramente mais ouvir do que falar, para manter esse tesouro que tenho guardado com cada vez mais carinho nas memórias novas e coisas a aprender com ela e sua história de vida. Por suas lutas, por sua jornada e toda experiência de um tempo diferente do meu, mas que guia e projeta minha vivência. Passado é referência. Ter avós vivos e com boa saúde depois dos 35 anos em diante, é um presente lindo da vida. É privilégio de poucos. Passe mais tempo como eles. É um porto seguro que ao passo natural da vida, vai ficando mais raro.

    De minha mãe guardo as risadas esganiçadas, as ideias loucas e engraçadas, a vontade de viver e buscar o melhor de si e da vida (ainda que em alguns dias pareça estar o mundo desmoronando e ela ficar sem esperanças e depois de tudo, melhorar no dia seguinte com mais ânimo), lembro das broncas, os conselhos que recebi na minha juventude e que recebo depois de adulto, os conselhos e broncas que às vezes eu preciso e tenho que dar a ela, a amizade que é um bônus maravilhoso numa relação de mães e filhos. Os abraços com um "te cuida", "vai com Deus", "que Deus te proteja", as diversas despedidas quando precisei ir pra longe, os abraços de saudade ao retornar, nossas lágrimas de alegria e de lembranças. Guardo na memória, frases que se tornaram icônicas vindo dela e que servem de combustível todos os dias para mim. Os elogios, a exaltação das minhas qualidades e as chamadas de atenção para meus defeitos.

    A tua fé em mim e no meu futuro, na forma que eu conduzirei minha vida de forma tão otimista que às vezes nem eu consigo, me faz sentir forte, mais do que sou e me traz uma dose amarga de coragem. Obrigado sempre.

    Hoje, eu ainda tenho vocês duas, inevitavelmente daqui há alguns anos apenas uma, e depois, estarei sozinho.

    Eu compreendo quem já não tem mais um dos pais, ou já é órfão. Quem não tem mais um ou os dois avós. Eu compreendo quem, muito jovem, não tem nenhum. Mas eu não entendo de fato, e um dia entenderei.

    Quem apenas tem os seus guardados no coração, dariam tudo por mais um dia ou ao menos horas ou minutos por um abraço de novo que nunca mais será dado. E justamente por isso, por estas pessoas e principalmente por mim, que sempre busco ligar, visitar, abraçar, beijar e dizer que amo minha avó e minha mãe. As minhas mães.

    Nunca saberei quando será a última vez, a despedida não dá aviso prévio. Portanto, se hoje você já não tem mais ela em sua vida, aponte suas orações e pensamentos pra ela, faça o que ela gostaria de estar fazendo, viva por ela, viva, e ela estará mais viva dentro de você. Não ser chamado de filho nunca mais, deve ser uma das formas mais cruéis de aprender que dali para frente estamos caminhando sem uma segurança. Pois seremos referência no futuro, faz parte da ordem natural da vida.

    Agora, se você tem sua mãe em sua vida ainda hoje, faça como eu sigo fazendo: se importe, telefone, visite, dê inúmeros abraços, ria nas conversas, se emocione nos encontros, presenteie com pequenos gestos a presença dela. Cozinhe para ela, arrume mais coberta para ela quando dormir na sua casa. Ajeite as coisas no lugar depois que ela dormir e apague as luzes. Zele por ela como um dia ela o fez ao lado do berço onde vocês estava dormindo.

    Evite que desentendmentos e diferenças de opiniões os afastem, busque algum perdão, ou perdoe. Nenhuma busca por quem tem a razão será maior do que sentimos um pelo outro. Diga, eu te amo. Sempre. Nem que seja na chegada ou na despedida. Diga que sentiu saudade, durma no sofá dela depois do almoço, vejam tv juntos. Caminhem pelo pátio. Todo tempo é valioso. E todo tempo do mundo nunca será o suficiente ao lado dela. E a má notícia, é que nós não temos todo o tempo do mundo com elas.

    Então, aproveite hoje, amanhã e depois, e depois, e depois...

Feliz dia das mães, mãe.
Feliz dia das mães, vó.
Feliz dia das mães, mães!